Shora




Pode-se considerar que o pós-rock instrumental e de composições que se estendem pelo ambiental e o emocional, está em voga neste novo milénio. De três ou quatro nomes que habitavam o inconsciente colectivo de alguns anos atrás, passaram a existir dezenas de bandas a povoar novos territórios, a trazer algo de novo ao género dito progressivo e fresco.
Neste contexto, Malval, dos suíços Shora, é mais um trabalho que traz valor acrescentado ao mundo do pós-rock actual desprovido da clássica estrutura assente em previsíveis estruturas musicais. O que interessa neste novo paradigma é a fluidez da música, o crescendo ou o simples desenvolvimento gradual de diversas camadas sónicas em que o ouvinte consiga mergulhar de cabeça nos sete ou oito minutos, em média, que correspondem à duração das músicas. Mais do que ficar no ouvido durante umas horas, interessa permanecer na mente durante dias.

Biograficamente, os Shora já existem há algum tempo, tendo lançado Shaping The Room em 2000 e em 2001, numa colaboração com Merzbow, Switching Rethorics. Estes dois trabalhos parecem à luz de Malval como sendo de uma outra banda, de um outro universo. A verdade é que após a incursão pelo noisecore e pelo mathcore, onde as dinâmicas violentas, complexas e caóticas pareciam trilhar a música dos Shora, a banda surge em 2005 com uma nova atitude e uma nova sonoridade. Muitos poderão estranhar esta alteração brusca, mas basta olhar para outros exemplos como os Examination Of The... e até os próprios Neurosis, cujas origens se encontram no punk, para concluir que o salto evolutivo não é fruto de qualquer alteração incontrolada ou de qualquer abrupta mudança.

Habitualmente, a fórmula que parece resultar em muitas das bandas de pós-rock actuais resulta num diminuir de intensidade e de volumes em determinadas partes de uma música para intensificar o momento seguinte. Isto é, se se fizer um crescendo gradual relativamente simples a coisa até é capaz de conseguir penetrar no ouvido. O que os Shora fazem de notável é conseguir esse mesmo efeito sem nunca terem de reduzir drasticamente de intensidade ou de alterar propositadamente o desenvolvimento das suas composições. Aqui, os piques de intensidade atingem-se durante vários momentos na mesma música, sem estarem exclusivamente reservados para um final catártico mas previsível – e sendo previsível deixa de produzir o efeito desejado.

Quatro músicas maioritariamente instrumentais compõem Malval, somadas, resultam em pouco mais de meia hora de música. Devido a esta composição, talvez este devesse ser considerado um EP, mas a verdade é que apesar da sua curta duração, Malval tem dentro de si a maturidade e a coesão de um álbum. A sua pequena duração poderá estar associada à alteração que a banda implementou no seu som, como que a desbravar cuidadosamente novos terrenos e novas paisagens. Seja por que razão for, estas quatro músicas assumem uma dimensão épica e conseguem modular por completo o envolvente do ouvinte. Preparem-se para meia hora de evasão completa, de transporte sideral para um qualquer recanto protegido e belo da via láctea. by: Gonçalo Sítima


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[2005] Malval

01 - Parhelion
02 - Arch & Hum
03 - Siphrodias
04 - Klarheit


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